A juventude é uma fase marcada pelas mais variadas formas de
desenvolvimento e transformação. É natural que as crises apareçam e se bem
acompanhadas, acabem por se tornarem oportunidades de crescimento e as
luzes oferecerem caminhos de esperança. Nessa peregrinação existencial que
todos nós percorremos, os jovens enfrentam inúmeros desafios, mas também
são movidos por sonhos e aspirações que os impulsionam a construir um futuro
melhor para si e para os outros. Acompanhá-los nesses momentos e ajudá-los
em seus discernimentos é um dos grandes desafios pastorais de nosso tempo.
O que são as crises das juventudes?
Para início de conversa, as crises vividas pelos jovens podem assumir várias
formas, desde questionamentos sobre identidade, futuro profissional, relações
afetivas, até questões de fé e espiritualidade. Segundo Viktor Frankl, em seu livro
“Em busca de sentido”, as crises carregam em si uma chamada para encontrar
um propósito mais elevado. Em meio às suas dúvidas e questionamentos,
buscam respostas que transcendam o imediatismo da vida moderna. No entanto,
muitas vezes as crises são agravadas por fatores externos, como a pressão
social por sucesso, a falta de oportunidades de emprego, as desigualdades
sociais e a insegurança no ambiente digital.
A pandemia de COVID-19, por exemplo, trouxe à tona novas dificuldades,
intensificando o isolamento, a ansiedade e o medo do futuro. Muitos jovens
sentiram que seus sonhos e projetos ficaram suspensos e algumas
consequências desse tempo, estão sendo colhidas somente agora. As guerras,
crises climáticas, os discursos de ódios, caracterizam para muitos jovens sérios
tempos de desesperanças.
Estes cenários acima citados nos questionam acerca dos homens e mulheres
que se tornam referenciais para aqueles e aquelas que vivem esse processo.
Temos gente qualificada para isso? Para acompanhar as crises, luzes e
sombras, desafios e esperanças das juventudes?
O papel da pastoral na superação das crises
Acompanhar os jovens em suas crises exige mais do que respostas prontas;
requer estudo, empatia e presença constante. O Papa Francisco, na Exortação
Apostólica Christus Vivit, lembra que “os jovens não devem ser deixados
sozinhos na travessia de suas crises e angústias. Eles precisam de mestres que
1 Ronnaldh Oliveira é bacharel em filosofia e em Jornalismo. Pós graduado em Influência Digital
Gestão e Estratégia, Juventudes e possui cursos na área de acompanhamento de Jovens, projeto
de vida. Possui publicações na área de juventudes, sinodalidade, comunicação e cárcere.
Atualmente está coordenador nacional de comunicação da Rede Inaciana de Juventude – MAGIS
Brasil.andem ao seu lado, que mostrem que há um caminho para sair dessas
situações”. Aqui, o papel do acompanhante se assemelha ao de um farol: não
controla o barco, mas ilumina o caminho.
Nessa busca humana por referencialidade, a Pastoral Juvenil, tanto nos
ambientes presenciais como digitais, deve criar espaços seguros onde os jovens
possam expressar suas crises, dúvidas e medos. O acompanhamento pastoral
é uma arte que se desenvolve na proximidade, na capacidade de olhar nos olhos
e, como Jesus já exemplificou, na disposição de caminhar com o outro.
Desafios contemporâneos: o mundo digital e a solidão
As redes sociais e a comunicação digital transformaram a maneira como os
jovens se relacionam consigo mesmos e com o mundo. Espaços muitas vezes
marcados pelos imediatismos e pela positividade: todos estão sorrindo, felizes,
vivendo uma espécie de recorte social. A pressão para “ser alguém” no ambiente
digital pode gerar sentimentos de inadequação e solidão, mesmo em meio a uma
suposta conectividade. Como Zygmunt Bauman argumenta em sua obra
“Modernidade Líquida”, as relações humanas tornaram-se fluidas, muitas
vezes superficiais e frágeis. Para os jovens, essa fragilidade pode resultar em
crises de identidade e autoestima.
Não podemos ignorar o impacto das tecnologias na vida das juventudes,
precisamos eclesialmente avançar de uma pastoral juvenil estagnada nos anos
70,80,90 para uma que saiba responder aos anseios de hoje, no hoje, fincada
no chão que pisamos, tendo em vista um futuro de esperanças. Não dá para
acompanhar os jovens de hoje com os dilemas de ontem.
É preciso atualização e aprofundamento para estar com eles também nas
periferias e grandes centros digitais onde todos podem ter voz. Isso envolve uma
educação digital que vá além do uso técnico das ferramentas, mas que promova
um discernimento sobre o que realmente importa: as conexões que são reais,
sejam no presencial ou no virtual. Para além de likes há pessoas atrás das telas,
com sonhos, projetos e necessidades.
A Esperança como luz
Mesmo em meio às crises, há sempre luzes que nos guiam e nos dão esperança.
O cristianismo é uma fé marcada pela esperança, pela certeza de que o
sofrimento não tem a última palavra. Assim, as juventudes podem ser
convidadas a olhar para suas crises sob uma nova perspectiva: a de que cada
desafio traz consigo uma oportunidade de crescimento, e que Deus caminha com
elas em cada etapa dessa peregrinação.
A esperança, como nos ensina Paulo Freire em “Pedagogia da Esperança”,
não é uma espera passiva, mas uma força ativa que nos impulsiona à ação. Para
os jovens, essa esperança se manifesta em pequenos gestos concretos.
Desafios e esperanças: mãos dadas no caminho
A vida dos jovens é, ao mesmo tempo, marcada por crises e por luzes. Os
desafios que enfrentam, tanto internos quanto externos, não são apenas
obstáculos, mas também oportunidades para que descubram quem são e para
onde desejam caminhar.
Em cada crise, há uma esperança a ser cultivada. Em cada desafio, uma
oportunidade de crescimento. É nessa caminhada, feita em conjunto, não
sozinho, que os jovens superarão constantemente as adversidades do caminho.